INTRODUÇÃO
O poema “The Waste Land”, de T.S.Eliot (1888-1965), publicado em 1922, é considerado, atualmente, como uma das mais significativas obras literárias do século XX, um marco da modernidade em literatura, como o “Ulisses”, de James Joyce, lançado no mesmo ano. Essas duas obras têm em comum, como disse Traversi, “a busca de um novo modo de organizar a experiência, de projetar material emocional, fragmentado por definição, sem óbvia conexão de tipo causal, numa estrutura que o contenha. Ambos procuraram a solução de seu problema no que Eliot /.../ chamou de ‘método mítico’” (1). “Em vez de um método narrativo, podemos usar o método mítico”, escreveu o poeta, conforme a mesma fonte e local.
A fim de já proporcionar, nesta Introdução, uma visão abrangente do poema antes de sua análise detalhada, transcrevo abaixo mais algumas opiniões sobre ele. Inicialmente, de Ascher, que o considera “uma espécie de símbolo da poesia moderna /.../. É um texto particularmente difícil: descontínuo; cheio de citações em várias línguas /.../; várias vozes dificilmente identificáveis e nem sempre facilmente diferenciáveis manifestam-se e misturam-se nele; a sociedade moderna é duramente ironizada, satirizada e criticada em toda sua extensão; ele rejeita e recupera, à sua maneira, a tradição” (2).
Para Kenner, “The Waste Land está repleto de uma obscuridade funcional, fragmentos sibilinos dispostos a render o máximo em poder conotativo, abrangendo o presente fragmentado e alcançando no passado aquela mente desaparecida da qual a nossa é uma continuação” (3).
E Bradbury o considera “um poema elaborado com base na paródia e no pastiche, um poema que tentava relacionar as grandes cadências poéticas do passado com as entonações e os padrões de fala da linguagem coloquial do presente”. Afirma adiante o mesmo autor que os fragmentos representam a essência de “A Terra Desolada”, poema “composto de fragmentos de poemas, fragmentos de conversas entreouvidas, fragmentos de vidas, fragmentos de cultura. O método da fragmentação era um modo de relacionar passado com o presente /.../. Acima de tudo, o método servia a Eliot como um sistema de modulação poética, com o qual ele captava as entonações dos grandes poetas e dramaturgos do passado /.../, as quais serviam como fundamento lírico e ressonância poética para as cenas e cenários modernos por ele traçados” (4)
Tendo em vista a importância e complexidade do poema, achei interessante preparar o presente estudo, de caráter introdutório, reunindo subsídios informativos sobre ele a fim de bem compreendê-lo visando à sua tradução fidedigna em português, na busca dos equivalentes linguísticos mais coerentes com o “espírito” do original. Pois é sabido que, para bem traduzir, é necessário não só conhecimento do idioma mas também do contexto, no caso literário-cultural, que envolve a obra a ser traduzida. As informações básicas foram colhidas da extensa bibliografia existente sobre o poema, levando em conta, obviamente, as Notas que o próprio Eliot anexou a ele.
Por outro lado, espero que este estudo também seja útil ao leitor, em nosso meio, que queira melhor apreciar esses versos no original, versos muitas vezes enigmáticos, que consistem, frequentemente, em citações (atribuídas nas Notas de Eliot, ou não) (5), em diversas línguas, além do inglês, a saber, latim, grego, alemão, italiano, francês e sânscrito. Neles intervêm inúmeros “personagens”, míticos, literários e outros, cada qual com sua própria “voz” no poema.
O estudo decorre assim do esforço de pesquisa de alguém interessado em aprofundar-se na compreensão de um dos marcos fundamentais da literatura universal e na avaliação dos limites da tradução de poesia (no caso, em língua inglesa) ao nosso idioma. Entretanto, esse esforço individual não significou apenas a mera coleta de informações explicativas dos versos mas também procurou ir além, ao buscar uma interpretação pessoal do poema, pela análise de seus aspectos conteudísticos e formais. Quanto a estes, todos estamos conscientes de que a poesia se faz com palavras, imagens, ritmo dos versos, sonoridades, sugestões etc.
A poesia já foi definida como “aquilo que se perde na tradução” (Robert Frost). Espero que este estudo dê pelo menos uma pálida ideia daquilo que foi perdido, a partir das considerações aqui feitas e do confronto entre o poema original e a tradução que elaborei e consta no final deste livro.
Comments
Post a Comment