Posts

A TERRA DESOLADA: ESTUDO DO POEMA "THE WASTE LAND", DE T.S.ELIOT, E SUA TRADUÇÃO EM PORTUGUÊS por Domingos van Erven

Os interessados no livro conteúdo o conteúdo deste blog poderão adquiri-lo por meio do site https://agbook.com.br/book/408571--A_TERRA_DESOLADA A TERRA DESOLADA: ESTUDO DO POEMA "THE WASTE LAND", DE T.S.ELIOT, E SUA TRADUÇÃO EM PORTUGUÊS por Domingos van Erven SUMÁRIO Introdução O Título A Epígrafe O Poema I. O Enterro dos Mortos II. Uma Partida de Xadrez III. O Sermão do Fogo IV. Morte Pela Água V. O Que Disse o Trovão Notas Minha tradução: “A Terra Desolada” O poema original: “The Waste Land” Bibliografia Consultada

INTRODUÇÃO

O poema “The Waste Land”, de T.S.Eliot (1888-1965), publicado em 1922, é considerado, atualmente, como uma das mais significativas obras literárias do século XX, um marco da modernidade em literatura, como o “Ulisses”, de James Joyce, lançado no mesmo ano. Essas duas obras têm em comum, como disse Traversi, “a busca de um novo modo de organizar a experiência, de projetar material emocional, fragmentado por definição, sem óbvia conexão de tipo causal, numa estrutura que o contenha. Ambos procuraram a solução de seu problema no que Eliot /.../ chamou de ‘método mítico’” (1). “Em vez de um método narrativo, podemos usar o método mítico”, escreveu o poeta, conforme a mesma fonte e local. A fim de já proporcionar, nesta Introdução, uma visão abrangente do poema antes de sua análise detalhada, transcrevo abaixo mais algumas opiniões sobre ele. Inicialmente, de Ascher, que o considera “uma espécie de símbolo da poesia moderna /.../. É um texto particularmente difícil: descontínuo

A EPÍGRAFE

“A Terra Desolada” traz como epígrafe uma passagem que se sabe provir do “Satiricon”, do escritor romano Petrônio (séc. I, A.D.), em latim e grego, cuja fonte, todavia, não é mencionada por Eliot. Sua tradução, conforme uma edição brasileira do “Satiricon”, é a seguinte: “Crês tu que eu, que te falo, vi com meus próprios olhos a Sibila de Cumes, suspensa em uma garrafa? Quando os garotos lhe perguntavam: “Sibila, que queres?”, ela respondia: “Quero morrer” (9). Segundo Southam,B.C., as Sibilas, na mitologia grega, eram mulheres que tinham poderes proféticos, sendo a de Cumes a mais famosa. Apolo lhe concedeu vida longa, conforme seu desejo: viveria tantos anos quanto o número de grãos do punhado de terra que tinha em mãos. Todavia, ela se esqueceu de pedir também a eterna juventude e por isso envelhecia continuamente, declinando-se ao mesmo tempo sua autoridade profética (10). Qual o significado dessa epígrafe, antecedendo todo o poema? Referindo-se ao mito

O TÍTULO

O adjetivo “waste”, em inglês, comporta diversos significados, o que possibilitaria traduzir “The Waste Land” por: A Terra Deserta, Erma, Desabitada, Devastada, Desolada; Improdutiva; Estéril; Sem Valor, Inútil; de Despejo (6). Nas melhores traduções em português a que tive acesso, o título do poema varia: Paulo Mendes Campos o traduziu como “A Terra Inútil”, mas se considerou insatisfeito com esse título. Ivo Barroso como “A Terra Devastada”. Idelma Ribeiro de Faria como “A Terra Gasta”. Ivan Junqueira como “A Terra Desolada”. Maria Amélia Neto, em Portugal, como “A Terra Sem Vida”.... Em espanhol, The Waste Land foi traduzido como Terra Baldía e El Yermo (yermo= ermo, desabitado, baldio, inculto). Em francês, como La Terre Vaine (vaine= vã; inútil), La Terre Inculte, La Terre Gaste (gaste= baldia), La Terre Vague (vague= baldia). Em italiano, como La Terra Desolata. Acredito que a tradução que melhor expressa o “espírito” do poema é aquela adotada por Ivan Junqueir

O POEMA

O POEMA “The Waste Land” é composto de cinco partes, apresentando, em sua versão original, um número total de 433 versos. A eles, Eliot acrescentou meia centena de notas que associam seus versos a citações de 31 fontes e autores, alguns referidos mais de uma vez (como Dante, por exemplo). Há também muitas citações não-atribuídas, conforme afirmam os estudiosos do poema. Essas cinco partes,de tamanho desigual, são assim intituladas (ao lado, consta o número de versos de cada uma): I. O Enterro dos Mortos (76); II. Uma Partida de Xadrez (96); III. O Sermão do Fogo (139); IV. Morte pela Água (10); V. O Que Disse o Trovão (112). A seguir, apresentam-se comentários relativos a cada uma dessas partes, ao seu conteúdo e forma. No final, apresento a minha tradução do poema. Levei em conta aqui, naturalmente, as soluções apresentadas pelos diversos tradutores a que tive acesso, citados anteriormente. Mas o critério adotado foi sempre a fidelidade aos ver

I. O ENTERRO DOS MORTOS

I. O Enterro dos Mortos (The Burial of the Dead) A parte I de “A Terra Desolada”, intitulada “O Enterro dos Mortos”, inicia com uma referência temporal: April is the cruellest month, breeding Lilacs out of the dead land, mixing Memory and desire, stirring Dull roots with spring rain. (vv.1-4) (Abril é o mais cruel dos meses, multiplicando/ Lilases na terra morta, misturando/ Memória e desejo, excitando/ Raízes inertes com a chuva da primavera.) Estamos em abril, início da primavera (no hemisfério Norte). É também a época da Páscoa, em que os cristãos celebram a ressurreição de Cristo. Os antecedentes dessa celebração são abordados nos dois estudos antropológicos (de Jessie Weston e James Frazer) referidos por Eliot, que serviram de inspiração para o poema. Como se verá, a morte e o renascimento (da natureza ou de um deus) ocupam um papel importante em seus versos. Esse início ocorre no tempo presente. Ao longo do poema, contudo, os tempos se inte

II. UMA PARTIDA DE XADREZ

II. Uma Partida de Xadrez ( A Game of Chess) A parte II do poema apresenta, embora formalmente não separadas, duas situações bem distintas pela ambientação e diálogos, a primeira relativa a uma classe social superior (a burguesia) e a outra, inferior (o proletariado). Eliot, todavia, não está preocupado com as perspectivas peculiares de cada uma dessas classes. Sua preocupação está acima das classes, volta-se para aquilo que elas têm comum, ou seja, a condição humana. As duas situações focalizadas apresentam relações amorosas desgastadas entre os cônjuges, indicando a frustração de sua vida em comum. Conforme a interpretação de Stephenson (93), o título da parte II- “Uma Partida de Xadrez” traz consigo a ideia de xeque-mate, de situação sem-saída, como o “beco dos ratos” (rat’s alley- v. 115) a que o marido do casal rico se refere. Essa seria uma situação que ocorre tanto na classe alta quanto na baixa, razão por que a menção ao jogo de xadrez cabe como tít